A rivalidade entre Medicina Veterinária e Medicina Humana é um tema que ainda gera debates. Quem nunca ouviu a famosa frase “ah, não passou em Medicina, foi pra Veterinária”, acompanhada de um tom que mistura pena e arrogância? Ou o clichê “mas veterinário não estuda tanto quanto médico”? Para muitos, essas expressões podem parecer apenas piadas inofensivas, mas na verdade, elas revelam um preconceito profundo que há décadas subestima uma das profissões mais complexas que existem. Está na hora de deixar essa rixa ultrapassada de lado e reconhecer o valor que a veterinária realmente merece.
Enquanto a Medicina Humana se concentra em uma única espécie, nós, da Medicina Veterinária, enfrentamos um verdadeiro zoológico de desafios todos os dias. O médico-veterinário precisa dominar a anatomia, fisiologia, patologia e farmacologia de cães, gatos, cavalos, bovinos, aves, animais silvestres e, em algumas situações, até peixes. Não existe “um sistema por vez” são dezenas de espécies, cada uma com suas particularidades, exigindo um conhecimento técnico e científico imenso. Dizer que isso é “mais fácil” do que estudar humanos é ignorar a vasta complexidade que a veterinária carrega. E mesmo assim, a sociedade continua a colocar a Medicina Humana em um pedestal, tratando a Veterinária como um “plano B”, como se fosse um curso mais leve, menos importante ou menos sério. O que muitos não percebem é que a atuação dos veterinários, embora invisível, é absolutamente essencial: eles garantem a segurança dos alimentos que consumimos, previnem e controlam zoonoses que podem levar a pandemias (olá, COVID), fiscalizam a saúde pública, gerenciam a produção animal que sustenta o agronegócio brasileiro e ainda protegem espécies silvestres ameaçadas. Enquanto os médicos humanos cuidam de indivíduos, os veterinários cuidam de todo um ecossistema.
Além disso, a Medicina Veterinária está na linha de frente da ciência. Nos laboratórios, veterinários estão a todo vapor, desenvolvendo vacinas, conduzindo pesquisas genéticas, criando biotecnologias inovadoras e colaborando com equipes multidisciplinares em estudos que beneficiam tanto os animais quanto os humanos. Sim, somos uma parte ativa da engrenagem que faz a ciência funcionar, mesmo que os holofotes raramente estejam voltados para nós. Não é à toa que muitos avanços da medicina humana tiveram suas origens no campo veterinário, afinal, os animais são modelos essenciais em pesquisas biomédicas. Outro ponto que muitas pessoas esquecem é que a veterinária vai muito além da clínica de pequenos animais. Quem opta por essa área, sem dúvida, enfrenta desafios enormes e é fundamental para o bem-estar dos pets que tanto amamos. Mas existe um universo paralelo de atuação: produção animal, gestão rural, saúde pública, inspeção de alimentos, marketing e gestão de negócios pet, conservação ambiental e até influência digital. Sim, tem veterinário criando empresas, liderando fazendas, salvando espécies e fazendo sucesso nas redes sociais. É uma profissão diversificada, inovadora e com oportunidades em praticamente todos os setores da sociedade. Quem pensa que “não passou em Medicina” e por isso escolheu veterinária está completamente perdendo a visão do jogo. A verdade é que essa rivalidade entre Medicina Veterinária e Medicina Humana é uma batalha que só existe na cabeça de quem não compreende a importância de nenhuma das duas. Ambas as profissões são essenciais, mas desempenham papéis diferentes. Médicos humanos salvam vidas; médicos-veterinários salvam o mundo que sustenta essas vidas. Enquanto um protege a vida de um paciente, o outro cuida da saúde de ecossistemas inteiros. E talvez o que mais incomode quem subestima a veterinária seja exatamente isso: nosso impacto é silencioso, mas imenso. Então, da próxima vez que alguém fizer aquele comentário atravessado comparando as duas profissões, lembre-se: não se trata de uma disputa sobre quem é “melhor”. É importante reconhecer que a veterinária não é inferior à medicina humana ela é única, complexa, essencial e repleta de oportunidades que vão muito além do que os preconceitos costumam permitir enxergar.
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