Importância da fisioterapia precoce em filhotes com doenças osteoarticulares genéticas

As afecções osteoarticulares de origem genética, como displasia coxofemoral, displasia de cotovelo e luxação patelar, representam um desafio clínico recorrente na rotina veterinária. Embora o manejo dessas condições costume concentrar-se em fases tardias — quando a sintomatologia já está evidente — a intervenção fisioterapêutica precoce, ainda no período de crescimento, tem se mostrado uma ferramenta poderosa na modulação da evolução articular e na melhora do prognóstico funcional desses pacientes.

Durante a fase de desenvolvimento, ocorre intensa remodelação óssea e muscular, influenciada por estímulos mecânicos, neuromotores e metabólicos. Em pacientes com predisposição genética, a incongruência articular e a instabilidade biomecânica provocam sobrecarga precoce de estruturas periarticulares, favorecendo o ciclo inflamatóriodegenerativo.

A introdução da fisioterapia nessa fase permite atuar de forma preventiva e moduladora, otimizando a função muscular e o alinhamento articular, minimizando a progressão de alterações degenerativas antes mesmo que sinais clínicos mais graves se instalem.

Recursos fisioterapêuticos aplicáveis

• A fisioterapia veterinária dispõe de uma ampla gama de recursos que, aplicados de forma criteriosa, atuam em diferentes etapas do processo fisiopatológico:
• Laserterapia de baixa intensidade: estimula fibroblastos, melhora a microcirculação e reduz mediadores inflamatórios, contribuindo para o controle da dor e para a regeneração tecidual.
• Ultrassom terapêutico: promove aquecimento profundo, melhora da extensibilidade capsular e aumento da mobilidade articular, sendo útil em casos de contraturas iniciais.Eletroestimulação neuromuscular: auxilia no fortalecimento de grupos musculares de suporte e na reeducação motora.
• Hidroterapia: proporciona resistência controlada e exercício de baixo impacto, permitindo fortalecimento muscular seguro em articulações instáveis. Esses recursos, combinados a exercícios terapêuticos ativos e passivos, favorecem a propriocepção, o equilíbrio muscular e a estabilidade articular durante o crescimento.

Benefícios clínicos observados

• O manejo fisioterapêutico precoce traz benefícios notáveis:
• Melhora da estabilidade dinâmica da articulação afetada;
• Fortalecimento seletivo de grupos musculares que compensam a incongruência articular;
• Diminuição da dor e inflamação subclínica;
• Melhor controle de peso e condicionamento físico;
• Redução na necessidade de intervenções cirúrgicas corretivas futuras;
• Prolongamento da vida funcional da articulação.

Além dos efeitos clínicos diretos, a fisioterapia permite monitoramento constante da evolução biomecânica, oferecendo feedbacks objetivos para ajustes terapêuticos e decisões clínicas.

Integração entre especialidades

O sucesso do tratamento desses pacientes depende da integração entre ortopedia e fisioterapia veterinária. O encaminhamento precoce ao fisioterapeuta deve fazer parte da conduta padrão diante de diagnósticos de doenças osteoarticulares genéticas, especialmente em filhotes de raças predispostas. A avaliação fisioterapêutica individualizada possibilita definir protocolos conforme idade, estágio de crescimento, grau de incongruência e nível de dor, garantindo um plano terapêutico mais preciso e eficaz. A fisioterapia em filhotes com disfunções osteoarticulares genéticas não deve ser vista apenas como medida paliativa, mas como parte fundamental do manejo preventivo e evolutivo da doença. Ao intervir ainda durante o desenvolvimento esquelético, é possível modular a resposta adaptativa da articulação, retardar a progressão das lesões e garantir melhor qualidade de vida funcional ao paciente.