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PIF ainda representa um desafio na prática clínica de felinos

O uso de antivirais específicos para a Peritonite Infecciosa Felina (PIF) ainda não foi aprovado no Brasil, dificultando o tratamento de animais contaminados

Escrito por Vet Conecta

22 SET 2025 - 20H11 (Atualizada em 22 SET 2025 - 20H13)

A Peritonite Infecciosa Felina, ou apenas PIF, é uma doença traiçoeira de difícil diagnóstico e tratamento, que acomete gatos, geralmente, jovens.

Segundo a médica-veterinária especializada em felinos do Centro Veterinário Hospitalar Nouvet, Isabelle Guimarães, essa é uma enfermidade grave causada pela mutação do coronavírus (FCoV).

“A PIF se desenvolve quando o coronavírus entérico felino, geralmente inofensivo, sofre uma mutação no organismo do animal e se torna virulento e capaz de infectar células do sistema imunológico (macrófagos). Ela acomete gatos jovens (com menos de 2 anos de idade) ou felinos com o sistema imunológico comprometido”, explica.

No entanto, o que muitas pessoas não sabem, é que a doença não se limita a felinos domésticos. “Os selvagens também podem ser acometidos, como leões, leopardos e felinos de zoológico ou reservas”, comenta.

PIF seca x PIF efusiva

De acordo com Isabelle, a Peritonite Infecciosa Felina pode se apresentar de duas formas principais: efusiva ou úmida e seca ou não efusiva.

“A forma úmida (efusiva) é marcado pelo acúmulo de líquido na cavidade abdominal ou torácica, podendo ocorrer distensão abdominal, dificuldade respiratória, febre persistente e letargia”, pontua.

Já a PIF seca (não efusiva), conforme ela, é marcada por lesões granulomatosas em órgãos internos, como olhos, rins e fígado, podendo levar a icterícia, alterações neurológicas, uveíte, perda de peso e febre intermitente.

“Ainda pode ocorrer a PIF mista, um quadro intermediário entre a PIF seca e PIF efusiva, que afeta múltiplos sistemas”, esclarece.

Deste modo, os sinais clínicos da doença são variados e não específicos, o que torna um desafio chegar a um diagnóstico conclusivo.

“Sinais clínicos gerais que podem surgir em todos os tipos são febre persistente ou intermitente não responsiva a antibióticos, letargia, perda de peso progressiva, apatia e redução do apetite, desidratação, pelagem opaca e sem brilho”, informa.

Por outro lado, existem sinais específicos de cada manifestação. A profissional comenta que na PIF efusiva pode ocorrer ascite, dificuldade respiratória se houver líquido no tórax, icterícia e febre alta constante.

“Os sinais específicos da PIF seca, por sua vez, contemplam envolvimento do sistena nervoso central, podendo existir convulsões, tremor, ataxia, incontinência, paralisia parcial e mudança no comportamento. Há ainda envolvimento dos olhos, causando uveíte, anisocoria (pupilas com tamanhos diferentes), secreção ocular e perda da visão. O envolvimento de outros órgãos pode causar aumento dos linfonodos e fígado, vômitos e/ou diarreia e dificuldade para urinar”, exemplifica.

Diagnóstico ante mortem não é simples

A médica-veterinária esclarece que chegar ao diagnóstico definitivo da PIF é um grande desafio devido a inespecificidade dos sinais clínicos e por não existir um exame 100% específico para a doença ante mortem.

“Algumas alterações laboratoriais podem nos indicar PIF, como anemia não regenerativa, alterações no leucograma e na contagem de proteínas totais (principalmente globulinas), além de análise do líquido cavitário, quando presente. Na imunohistoquímica ou na imunofluorescência, considerado padrão ouro no diagnóstico, é esperado encontrar antígenos do coronavírus em tecidos com lesão inflamatória. Porém, raramente esse exame é realizado em vida por ser invasivo”, explica.

Isabelle também informa que os exames de imagem podem indicar aumento dos linfonodos abdominais, líquido livre, espessamento de alças intestinais e lesões em órgãos, como rins, fígado e sistema nervoso central.

Novas terapêuticas oferecem esperança

Por muito tempo a Peritonite Infecciosa Felina foi considerada fatal. É verdade que a doença ainda possui um elevado índice de mortalidade, mas estão surgindo novos medicamentos que podem mudar esse cenário.

“Atualmente, a PIF pode ser tratada com sucesso graças a antivirais específicos, como o GS-441524. O avanço no tratamento mudou o prognóstico especialmente quando a doença é identificada e tratada precocemente. Porém, devido ao uso indevido por diagnósticos errôneos, alguns gatos já apresentam resistência ao uso deste antiviral”, relata a profissional.

No entanto, um desafio é que até o presente momento o tratamento da PIF com esses medicamentos não é autorizado no Brasil devido questões legais e comerciais.

“Devido a isso, o médico-veterinário não pode realizar qualquer aplicação das medicações e tão pouco prescrevê-las. Porém, é de responsabilidade do profissional realizar o devido acompanhamento e auxílio ao tutor”, comenta.

Mesmo assim, o prognóstico da enfermidade é variável. Logo, para Guimarães, os principais fatores que pioram a chance de sobrevivência são acometimento grave do sistema neurológico, renal ou hepático, falta de adesão ao tratamento completo, uso de antivirais falsificados e erros na dosagem das medicações.

Prevenção é a melhor saída

Isabelle comenta que o agente causador da PIF é um coronavírus mutado não transmissível entre gatos. Contudo, o coronavírus entérico é transmitido principalmente pela via fecal-oral.

“Por isso, o controle ambiental é fundamental. Realizar higienização rigorosa das caixas sanitárias, separar as caixas sanitárias quando um animal doente estiver presente, reduzir aglomeração dos gatos (gatis e abrigos têm maior risco), fazer a desinfecção ambiental com detergentes e desinfetantes e isolar gatinhos positivos para FCoV são formas de prevenção”, exemplifica.

Para resumir, a profissional afirma que nem todo gato positivo para FCoV irá desenvolver a Peritonite Infecciosa Felina, pois a mutação depende de fatores imunológicos e ambientais.

“Portanto, reduzir o estresse ambiental, não ter consanguinidade genética, tratar comorbidades e oferecer uma boa nutrição e manejo sanitário são deveres do tutor para prevenir a doença”, conclui.

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Por Vet Conecta, em Notícias

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